quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A política segundo César

Quem ainda não sentiu os dissabores da política democrática que Salazar expressou quando disse que 'detestava a política do fundo do seu coração; todas aquelas promessas incoerentes e barulhentas, as exigências impossíveis (...) o oportunismo que não se preocupa nem com a verdade nem com a justiça, a busca inglória da fama não merecida, (...) a distorção dos factos, todo aquela fervorosa e barulhenta excitação'?
(Huizinga in The Times, 16 November 1961, citado em Crick, In defense of Politics, Continuum, 5ª ed. 2005)


César tornou-se uma daquelas pessoas perigosas para quem a política é sempre uma coisa desagradável, uma coisa palaciana.

Recentemente, aquando da apresentação e discussão do programa de governo regional - após o novo presidente da Assembleia Regional (F. Coelho) ter dito que afinal se deveria votar o programa, contradizendo aquilo que havia dito na noite anterior onde teimou que, tendo o governo maioria e não havendo moções, o programa não teria de ser votado pela Assembleia -, gerou-se um mal-estar entre partidos da oposição e o partido do Governo Regional. Aqueles - na noite em que não puderam votar contra o novo orçamento - gritaram que era uma injustiça anti-democrática, uma coisa nunca vista, que não podia ser. O surpreendente foi que, no dia seguinte - quando Coelho deu o dito por não dito - estes mesmos indignados votaram contra mas não abriram bico, nem declarações de voto, nem protestos, nada, até hoje silêncio absoluto sobre o assunto. Segundo as notícias, o seu silêncio teria sido trocado pelo adiamento sine die da proposta da maioria para reduzir os custos da Assembleia. As subvenções dos grupos parlamentares seriam reduzidas e, por consequência, haveria menos pessoas a entrar na assembleia. Na rádio (RDP -Açores) ainda houve alguma informação e indignação, nomeadamente de Álvaro Monjardino quando disse que, a ser verdade, 'o pacto de silêncio' era gravíssimo. NA RTP-Açores apenas uma breve referência à mudança de posição de Coelho, mas nada de imagens da votação contra, nada de perguntar à oposição porque estava tão calada. De seguida 10 minutos sobre o Estatuto dos Açores e o Presidente da República (note-se que isto se passou há sensivelmente três semanas e nada de novo tinha acontecido quanto ao Estatuto). César, questionado pela RTP Açores sobre o comportamento de Francisco Coelho, disse que não tinha tempo para "intrigas palacianas."
Ontem, depois de saber que Cavaco Silva promulgara o malogrado Estatuto, César volta a classificar o desentendimento entre partidos e Presidente como "intrigas palacianas".

Para um residente no palácio de Sant'Ana, a sinceridade não poderia ser mais genuína.
(LFB)

A América vista por Zappa em 1966

"Anscombe era, naquela altura, uma fervorosa admiradora de Kafka e, num esforço para partilhar o seu entusiasmo, emprestou a Wittgenstein alguns dos livros de Kafka. 'Este homem', disse Wittgenstein ao devolvê-los,' não escrevendo sobre os seus problemas, cria para si próprio imensos problemas [gives himself a great deal of trouble not writing about his trouble]."

Ray Monk, Ludwig Wittgenstein - The Duty of Genius, (Penguin, 1991), p.498. (Tr. LFB)
"... Se pudéssemos escolher, qual seria a melhor morte?
César respondeu imediatamente.
- Súbita e inesperada, mesmo que sangrenta e dolorosa. Seria imensamente preferível a uma morte prolongada. De entre todos os episódios que referes, Lépido, a morte de Pompeio foi a melhor. Todos os outros avistaram a sombra da morte muito antes de ela os atingir, e devem tê-la contemplado com temor, mas Pompeio manteve, mesmo até ao fim, uma esperança, ainda que frágil; e o fim chegou-lhe de forma surpreendente, ainda que chocante. É certo que o corpo dele foi profanado mas, quando me entregaram os restos, eu tratei de que fossem purificados, e de que fossem objecto de todos os ritos adequados. O lémure dele repousa em paz."

Steven Saylor, Roma, Bertrand editora (Tr. M. J. Figueiredo), p.598.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Putnam e a filosofia judaica (i) "introduction (autobiographical)"(pp. 1-8).


1) Putnam é um filósofo de tradição anglo-saxónica. Formado na U.C.L.A, diz-nos que que o seu mestre foi Hans Reichenbach, sendo muito influenciado pela forma científica de pensar (p.1). Nesta introdução autobiográfica Putnam fala de si como um filósofo naturalista mas não reducionista; no sentido que não defende que tudo possa ser reduzido a propriedades físicas. Para ele, por exemplo, "o nível da acção moral significante" (p.5) não é redutível. E há uma relação entre a realidade e a moralidade no sentido em que "realidade exige coisas de nós". Os valores, ainda que criados pelos humanos, são uma resposta às exigências da realidade e estas não são criadas por nós. "É a realidade que determina se as nossas respostas são, ou não, adequadas" (p.6) Na linha do "pragmatismo clássico" (Dewey).
Putnam escreve aqui sobre Rosenzweig, Buber e Levinas - filósofos judeus pouco valorizados na filosofia anglo-saxónica. E também sobre Wittgenstein que, não sendo propriamente judeu (o seu bisavô tornou-se cristão) é muito importante para o objectivo de Putnam: estudar, através dos textos destes quatro pensadores, a relação entre o filósofo, o religioso e o ético. Nas suas palavras:

"o que fiz, filosoficamente falando, das actividades religiosas das quais passei a fazer parte?" (p.3).

No passado operava uma separação entre o filósofo ateísta e o homem crente. Dentro da sua tradição filosófica: separar o humano/religioso do filósofo/académico.

2) Putnam estabelece semelhanças e diferenças entre as teses dos autores sobre os quais o livro versa e as teses defendidas por filósofos analíticos contemporâneos (T. Nagel, Parfit, Rorty). Será que esta aproximação entre duas formas de filosofar representa um enriquecimento filosófico? Se sim, qual?

3) Putnam é judeu e o livro procura fazer uma intersecção/depuração entre diferentes formas de vida (estudar e rezar). A sua relação com as práticas judaicas começou nos anos 70 com uma Ever Shabbat (conferência de sexta-feira à noite) e solidificou-se com a preparação, em diálogo com o rabi local, do bar mitzavh para o seu filho Samuel.
Putnam refere a meditação transcendental muito em voga nesses anos: "... Pensei: bem em vinte minutos posso rezar as orações judaicas tradicionais (daven). Porquê experimentar algo vindo de outra religião? (...) Descobri que era uma actividade transformadora" (p.3).
A questão de como lidar com o lado religioso da vida surgiu também da reflexão sobre a linguagem religiosa de Wittgenstein, em particular sobre a ideia de que "para o homo religiosus, o sentido das suas palavras (...) está profundamente interligado com o tipo de pessoa que o indivíduo religioso particular escolheu ser e com as imagens que são a fundação dessa vida individual" (p.5). O ponto importante que ajudou Putnam a reconciliar os vários níveis da sua vida foi o facto de, em 1997, ter decidido leccionar um curso de filosofia judaica, curso este que está na origem do livro.

(LFB)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

EU DIRIA QUE:

A nova secretária da educação - conduzida pela mão experiente de César - ao retirar a investigação da grelha da avaliação e ao afirmar que vai desburocratizar a escola, é mais uma a juntar ao grupo daqueles que confundem as árvores com a floresta.
Alterando um (1) item na grelha, cede aos representantes dos sindicatos (por vezes, "profissionais do sector") que devem agora estar muito felizes, mas não percebe que o mal está por toda a grelha - subjectividade e ambiguidade parecem não ser preocupações nem para eles nem para ela.
Participar em projectos de investigação é necessário em qualquer nível de docência, o que está mal é não haver tempo para o fazer. Reconhecessem isto os "lutadores" e poderiam ter exigido quatro dias de aulas e um de liberdade para investigar. Como é óbvio sem investigação individual não se pode nem ensinar nem saber (neste contexto investigar é igual a ler, falar e escrever sobre o que se lê), ah mas isso é demais para os professores. "Trabalho em equipa", isso sim. Para isso temos tempo.
O resultado, já se vê: professores todos iguais, redondinhos, sem nada na cabeça (= é sempre a mesma matéria), mas com muita dinâmica (= conversa de café) e trabalho em equipa (= uns trabalham - esteja descansado, há sempre um - e todos assinam).
A ideia de desburocratizar é óptima, não fosse ela mais uma armadilha em que a senhora educadora de infância caiu. Ainda que tal palavra funcione como calmante para os lutadores, isso implicaria uma nova maneira de olhar para a docência - basicamente reconhecer que o trabalho de um professor é dar aulas sob condições dignas (coisa que nem todos os professores desejam) - que teria de passar pela alteração profunda do Estatuto, das escolas, dos auxiliares. E não é todo o conteúdo da grelha uma grande burocracia?
Alterações profundas, não. Desburocratização, sim.
Como educadora de infância e leitora (tem que ter investigado alguma coisa, ou não?) talvez tenha tropeçado na ideia de que transformar "jardins-de-infância" em bunkers gigantes (eu conheço um (e você?) onde as criancinhas almoçam numa sala cuja única janela para o exterior é uma televisão ("é para entreter"), antes chamavam-se a estes espaços arrecadações agora: "sala multiusos") sem espaços verdes, com pouco luz, e com a gritaria de centenas de miúdos de outros níveis de ensino como pano de fundo, é algo monstruoso e que ilustra bem o desrespeito com que esta sociedade trata as suas crianças. Ah, mas isto já é outro post.
- Então o que é que, do seu ponto de vista , vai mudar? Bom, não sabemos até porque, para além de que a senhora educadora é do PS não se vê o seu "saber". Foi apresentada por César como tendo mestrado em ciências da educação. Mas também o Sr. Contente como professor universitário!
- Eu diria que: é preciso mudar para que tudo permaneça na mesma (perdoe senhor Lampedusa pela desproporção qualitativa).



(LFB)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

«nunca li outro livro que me fizesse lembrar tanto a Bíblia como O Castelo»

"Ao mesmo tempo que Rosenzweig estava a escrever Compreendendo o Doente e o Saudável - Uma visão do Mundo, do Homem e de Deus (Understanding the Sick and the Healthy, na tradução inglesa)", Franz Kafka estava a trabalhar no Castelo. Neste livro um agrimensor, K, recebe uma chamada para trabalhar num castelo; ao chegar à aldeia que é dominada pelo castelo descobre que o castelo lhe é inacessível, que nem mesmo os oficiais de mais baixa patente podem ser contactados e que a sua crença de que foi chamado não pode ser verificada. Os aldeões, que vivem sem colocar questões e estão protegidos por um sentido ingénuo de segurança, olham para K como um estranho: «não precisamos de um agrimensor, os limites das nossas terras estão bem definidos». K permanece isolado quer do castelo quer da aldeia. O seu conhecimento afasta-o das pessoas que nada sabem, mas ele não consegue trazer esse conhecimento para a vida porque a vida real, eterna e significativa está no castelo e inalcançável para o homem que tem saber. A situação trágica do homem resulta do facto de ter comido da árvore do conhecimento e de não ter comido da árvore da vida" (...) Com a expulsão do Paraíso o homem perdeu o seu nome (os heróis de Kafka usam apenas a letra inicial), perderam a linguagem (não há verdadeira comunicação), perderam o seu amor (apenas o sexo permanece); o tempo que poderia ser agora o do homem, não é outra coisa senão eternidade paralizada, distorcida e confusa. Homem (K), Mundo (aldeia) e Deus (castelo) existem, mas as suas existências não estão correlacionadas.
Rosenzweig percebeu que Kafka estava lidar com um problema bíblico genuíno e afirmou: «nunca li outro livro que me fizesse lembrar tanto a Bíblia como O Castelo». Rosenzweig encontra o homem exactamente onde Kafka o deixou. À questão bíblica de Kafka, o escritor existencialista, Rosenzweig, o pensador co-existencialista, fornece a resposta bíblica, pois ele admite a ideia bíblica de revelação (amor). Assim o homem encontra o seu lugar ao lado do seu companheiro, no mundo e perante Deus. Ele fala e falam com ele. É chamado pelo seu nome e nomeia os seres à sua volta. Ultrapassou a sua desconfiança sobre o tempo, aprendeu a esperar (o homem, diz Kafka, foi expulso do paraíso por impaciência) até que «compreende no tempo certo,» até que o tempo se torne um espelho da eternidade."

Nahum Glatzer, introdução ao livro de Franz Rosenzweig, Understanding the Sick and the Healthy - A view of World, Man, and God, (com uma introdução de Hilary Putnam), Harvard U.P.,1999, p.31-32. (tradução livre LFB)


Esta citação/tradução surge do facto de eu, após ter começado a ler o muito recente livro de Putnam, Jewish Philosophy as a Guide to Life: Rosenzweig, Buber, Levinas, Wittgenstein, (Indiana U. P. 2008) do qual espero apresentar aqui algumas notas e traduções, ter pegado de novo no pequeno livro de Rosenzweig que é, entre muitas outras coisas importantes, uma refutação da ideia de que "a filosofia pode fornecer conhecimento das essências" (Putnam, 17).

(LFB)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"Resistir muito, obedecer pouco."
(Walt Whitman)


Aproveito que estou em greve (já lá vamos aos motivos) para escrever algumas coisas sobre o estado da educação nos Açores.
Na educação as coisas também estão como César quer.

Desde há vários anos que a política educativa tem sido feita na base do tirar muito com uma mão e, depois do diálogo com os sindicatos (depois da 'luta' como estes gostam de dizer), dar um pouco menos com a outra.

Nas escolas açorianas não há distinção entre professores titulares e professores não titulares, nem há cotas para progressão. E ainda bem, uma vez que tais distinções constituem uma violação do princípio fundamental da igualdade de oportunidades.
Mas tal não significa que por aqui as coisas não estejam mal.
Independentemente do que venha a ser a avaliação nas escolas açorianas, elas estão transformadas (e não é de agora) em espaços de ilusão:

a) a ilusão do sucesso: o que importa é o sucesso (significa passar de ano, quer se saiba quer não, ou mudar de escalão quer se saiba quer não). Mas o sucesso é uma coisa para o Marco Paulo, é uma categoria do espectáculo. Na escola o que importa é saber e agir. E quem não sabe tem que aprender; quer seja aluno quer seja professor;

b) a ilusão da igualdade: somos todos iguais, não há bons nem maus, há é 'dinâmicas' e 'interacção'. E muita ignorância à mistura. O que os professores precisam é de exigir respeito e reconhecimento da sua autoridade educativa. Uma autoridade, por natureza, nunca pode ser igual. Se os professores se afirmassem - não apenas pela via de estarem a ficar mais pobres e sem poder de escapar - mas pela via da autoridade científica; apresentando projectos realizáveis dentro da escola, investigando, melhorando e avaliando as suas práticas, criando espaços internos de discussão, criando, criando, criando uma escola como quem cria uma criança… Acima de tudo mostrando-se capazes de exigir respeito - então poderiam argumentar: alto lá, quem manda aqui somos nós;

c) a ilusão de que qualquer um pode ensinar e os que já ensinam já sabem: ser professor é ser investigador e quem não investiga não pode e, portanto, não deve, ensinar. A investigação faz-se de muitas maneiras; envolve experiência, muita leitura, discussão crítica, escrita e humildade. Nada disto é permitido nas escolas. Não há tempo, dizem. Então o que preciso é mais tempo para se poder ser professor;

d) a ilusão da avaliação: o modelo de avaliação, introduzido à pressa nas escolas, nada avalia. Para além de ter criado num só dia (por artes mágicas a que alguns chamaram 'acção de formação'!) um conjunto de professores avaliadores - pobre ilusão esta de se pensar que qualquer um pode avaliar seriamente qualquer um - baseia-se num "conjunto de evidências" que ou são subjectivas ou são facilmente manipuláveis, ou as duas coisas.Para se avaliar o trabalho de um professor é preciso ter mais conhecimentos (e não só mais experiência), ter feito investigação prolongada no domínio da pedagogia e da didáctica, ter sido avaliado por pessoas com mais sabedoria. Nas escolas há poucas pessoas com este saber, logo a avaliação dos professores não pode ser feita por pares.
A avaliação deveria basear-se em três pilares: i) uma avaliação externa dos professores feita por investigadores doutorados; ii) uma avaliação feita com base naquilo que os alunos realmente sabem ao fim um ciclo - um exame externo aos alunos que permitisse ver o que é que os professores ensinaram ou não ensinaram; e iii) uma avaliação feita com base no trabalho de investigação de cada docente - formação que deveria ser feita no local de trabalho, ao longo do ano escolar e orientada por especialistas, no fim do ano o docente apresentaria à comunidade a sua investigação;

e) a ilusão de que o importante é fazer, sem questionar, aquilo que nos pedem, por muito absurdo que isso seja. Os professores ocupam muito do seu tempo com tarefas burocráticas, repetitivas e, em muitos casos, desnecessárias, só porque sim.
Não, o que realmente importa é garantir a liberdade. Em primeiro lugar, a liberdade do professor enquanto professor: o professor é livre porque sabe. Tem um saber a transmitir, pode decidir o que fazer, como fazer, o que avaliar e deve ser livre no trabalho e na avaliação que faz - livre de politiquices e de pequenos favores, de fazer de conta, de assistir a reuniões entediantes e vazias, livre para recusar tarefas que atentam contra a sua dignidade. Mas a liberdade implica mostrar competência científica, pedagógica e didáctica - são estas as condições essenciais para uma escola séria e para garantir qualidade e independência. Isso consegue-se com estudo e requer manutenção constante e demonstração, demonstração essa que passa pela avaliação objectiva por uma entidade externa, de preferência estrangeira.

Triste país aquele que tem medo de ser livre.

É por tudo isto que hoje faço greve.


(LFB)

A política açoriana

Ao contrário das aparências, a política nos Açores está como César quer que ela esteja.
O número de deputados,  em vez de reduzir, aumentou - actualmente são 57 para 250 mil habitantes. Se as outras regiões do País seguissem a mesma insanidade seriam precisos 2200 deputados para representar todos os portugueses!
Somos uma região ultra-periférica, com especificidades próprias, dizem-nos. Pois, pois. E Vinhais não? E Jorumenha não? Só um raciocínio do mais provincianismo imaginável pode dizer que as aldeias mais recônditas de Portugal não têm especificidades próprias, mas o Corvo têm.
É claro que o problema está nos Açores e não nas outras regiões. À custa da noção de autonomia, tornamo-nos uma região despótica, anticonstitucionalista (veja-se o desrespeito pelo constitucionalismo manifestado nos últimos meses), despesista, manipuladora, e onde a política é mera propaganda e divertimento - é nestas duas últimas categorias que entram coisas como o 'diálogo' com os sindicatos, governar para os açorianos, o futuro dos Açores, etc.
O líder demissionário do PSD, num raro momento de sinceridade, disse bem: "agora vou ser deputado e vou ter tempo para jogar bowling com o meu filho" (ao que se sabe, afinal já suspendeu o seu mandato de deputado, vai gerir uma empresa, mas voltará, quando ao bowling nada de novo).

Carlos César gritou democracia por terem sido eleitas outras forças políticas, mas é brincadeira. A questão é que, dado o sistema político e eleitoral vigente, as maiorias fazem o que querem. E pior, se não houver maioria a região torna-se ingovernável. Como César tem a maioria fará o que quer. Os Açores precisam é de um órgão com poder efectivo de avaliar as leis do governo e de as recusar por votação. Com excepção das leis de Base da República (segurança e pouco mais), César e o seu clã podem legislar como muito bem entenderem que ninguém pode fazer nada.

(LFB)