terça-feira, 27 de julho de 2010

Agradecimento

Enfim calquei o recentemente inaugurado Passeio Marítimo dos Biscoitos. Segundo Berto Messias (DI de 24/07/10), a dita freguesia vê assim "consideravelmente reforçada" a sua "vocação para o turismo e lazer".
Para alguém habituado a percorrer diariamente a zona, há agora a vantagem de ver a costa delineada por um magistral tapete vermelho. Mas o que mais me agrada é poder fazer quase todo o caminho em cima dos novos muros.

Quero, pois, agradecer ao Município pela possibilidade de um novo olhar, mais altivo e abrangente, sobre a paisagem dos Biscoitos.

(DO)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

"Já se sabe: por uma linha razoável ou uma notícia correcta há léguas de insensatas cacofonias, de embrulhadas verbais e de incoerências." (p.70)


"A verdade é que vivemos a adiar tudo o que é adiável; talvez todos saibamos profundamente que somos imortais e que mais tarde ou mais cedo todo o homem será todas as coisas e saberá tudo." (p. 103)


in Borges, J. L. (2009). Ficções (tr. J. C. Barreiros). Lisboa: Teorema.

sábado, 24 de julho de 2010

João Lobo Antunes

[...]
- "De que é que gosta menos em Portugal?

- É muito mais fácil para mim falar daquilo de que gosto muito do que daquilo de que menos gosto. Vou responder-lhe em inglês: a certain lack of seriousness. E «seriousness» não é «seriedade». A certain lack of seriousness.

- Que palavra escolheria em português para traduzir seriousness?

- Circunspecção, respeito, consideração. Não só pelas pessoas mas também pelas ideias. Veja por exemplo como a educação é tão pouco respeitada enquanto pilar fundamental da construção - até moral - de um povo. A certain lack of seriousness." [...]

(Entrevista de Carlos Vaz Marques a João Lobo Antunes, Levista Ler, Julho/Agosto 2010, nº 93, p.24)

José Saramago

[...]
- Foi hoje anunciado o vencedor do prémio Nobel da Literatura.
- quem é que ganhou?
- Herta Müller
- Nunca ouvi falar. Você já ouviu?
- Não, até hoje de manhã... Mas o seu próprio nome aparece constantemente como um potencial vencedor...
- Isso é um erro. O meu nome é falado na imprensa, mas não na Suécia. Isso é apenas falatório. [...]
- Conhece o trabalho de José Saramago?
- Não, não conheço."
(Entrevista de João Luz a Philip Roth, Jornal Expresso # 1929, 17 Outubro de 2009, revista Actual)
«»«»«»«»
[...]
"Podemos olhar para parte da obra de Saramago a partir de um ensaio de Sloterdijk sobre a aprendizagem na «cultura pânica», onde se fala do «ensino pela catástrofe» - essa ideia de que «somente o ensino prático do que é mau pode iniciar uma viragem para o que é melhor». A ideia é simples: os ouvidos e os olhos são meios frágeis de aprender, meios rudimentares, dir-se-ía. Só se aprende quando as coisas tremem e as catástrofes podem assim ser vistas como avisos, como algo mais forte que não tem outra forma de ensinar a não ser assustar-nos - e nesta categoria entrariam as calamidades naturais e outras; «quem não quer ouvir tem que sentir», escreve Sloterdijk, que realça nesse ensaio essa «aprendizagem com o pior no último minuto». Trata-se de uma «pedagogia pela catástrofe» em que se acredita que há «conexões imperativas entre a desgraça e o entendimento» e «energias didácticas e transformadoras da opinião que irradiam das tragédias»." [...]
(Gonçalo M. Tavares, revista Ler, Julho/Agosto 2010, nº93, p.49)
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[...]
- Como me disse que há escritores para quem o prémio se torna um farol...
- Ah, isso há. Agora mesmo, o Philip Roth está esperando o Nobel. Esse está claríssimo.
- Isso é claro, para si, também naquilo que ele tem escrito?
- Não é naquilo que ele escreve. É na postura.
- Seria um bom Nobel?
- Eu creio que sim. é um grande narrador. Um enorme narrador. Capaz de tornar fascinante qualquer descrição que faça. De uma situação de um lugar. É realmente muito bom. não me surpreenderia nada que fosse."
[...]
(Entrevista de de Carlos Vaz Marques, em Julho de 2008, a José Saramago, revista Ler, Julho/Agosto 2010, nº93, p.64)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Vive alguém no pôr-do-sol?
Porque são os grandes todos professores?

quinta-feira, 8 de julho de 2010



"Mil árvores estão ao Céu subindo,

Com pomos odoríferos e belos:

A laranjeira tem no fruto lindo

A cor que tinha Dafne nos cabelos;

Encosta-se no chão, que está caindo

A cidreira co'os pesos amarelos;

Os fermosos limões ali, cheirando,

Estão virgíneas tetas imitando."



Camões, Os Lusíadas, Canto nono, 56, 1572 (ilustrações de lima de Freitas, Edição Círculo de Leitores, 1972).

sábado, 3 de julho de 2010

Estados de espírito


"Ninguém escolheria viver com uma mentalidade de criança ao longo de toda a existência, mesmo podendo gozar de forma extrema com prazeres infantis; nem ninguém escolheria gozar prazeres que implicassem fazer algo de extremamente vergonhoso, mesmo que não houvesse perspectiva de sofrer consequências desagradáveis. Para além disso, fazemos um caso sério de muitas coisas, mesmo que elas não nos tragam nenhum prazer, como é o caso de ver, lembrar, saber ou possuir as excelências. Não faz diferença alguma se há prazeres que acompanham necessariamente algumas daquelas operações, porque nós as escolheríamos para nós, mesmo que elas não nos dessem prazer nenhum."

(Aristóteles, Ética a Nicómaco, 1174a2-8)