sábado, 29 de novembro de 2014

Anthony Braxton - (840M)-Realize-44M 44M



From the Album:"3 Compositions of New Jazz"

Personnel:

Anthony Braxton: alto saxophone, soprano saxophone, clarinet, flute, oboe musette, accordion, bells, snare drum, mixer.

Leroy Jenkins: violin, viola, harmonica, bass drum, recorder, cymbals, slide whistle,

Wadada Leo Smith: trumpet, mellophone, xylophone, kazoo.

domingo, 23 de novembro de 2014

Porto Judeu


"«O ódio mortal e indiscreto que nesses tempos menos ilustrados tinham desenvolvido contra os desta Nação, faria dar a qualquer objecto menos agradável o epíteto de Judeu, e parece que neste dia o deu a este porto: como quer que se desse o facto, é certo que o apelido ficou ao lugar, hoje uma grande freguesia...» Segundo as melhores tradições, Jácome de Bruges, capitão Donatário da Ilha, teria desembarcado no dia 1º de Janeiro de 1451, numa pequena baía, «à qual deu o nome de Porto Judeu em razão de estar ali o mar revolto, e não porque viesse algum desta família»."

                      Pedro de Merelim, Os Hebraicos na Ilha Terceira, 1995, p. 39.                                

Lester Young & Harry Edison Sextet - That's All





segunda-feira, 17 de novembro de 2014

"Os Judeus de Ostrowiec são levados, de noite, para as câmaras de gás. Resistem."

"(...)
A 10 de Dezembro, estacionava na estação um comboio de judeus de Ostrowiec e o comandante do campo foi informado de que, na manhã seguinte, chegaria a Treblinka um novo transporte. O comandante ordenou que levassem, de noite, os judeus de Ostrowiec para a câmara de gás. Assim se fez. Nós estavamos fechados nos barracões e nada vimos. Só tínhamos ouvido os gritos habituais. Mas quando fomos para o trabalho na manhã seguinte, descobrimos vestígios dos acontecimentos da noite. Os rampiajes abriram as portas das câmaras de gás e começaram a tirar os cadáveres. Os carregadores transportaram-nos até às valas. Desta vez, os carregadores e encarregados da limpeza da coluna chamada do Schlauch tiveram que realizar uma tarefa inédita.
O corredor do edifício que albergava as três câmaras de gás pequenas estava juncado de cadáveres. Havia sangue coagulado até à altura dos tornozelos. Soubemos o que se tinha passado pelos ucranianos. Um grupo de algumas dezenas de homens tinha-se recusado a entrar na câmara de gás. Resistiram e, inteiramente nus, tinham usado os punhos para lutar e não se deixaram encerrar. Os SS tinham então aberto, fogo, com as suas espingardas automáticas, no corredor e abatido ali mesmo os resistentes.
Os carregadores retiraram os cadáveres, a equipa de limpeza lavou o corredor. Como de costume, os pintores deram uma mão de cal nas paredes manchadas com o sangue e a massa encefálica dos suplicados. O edifício ficou outra vez pronto para acolher novas vítimas.
O comandante Mathias veio então ver-nos, aos dentistas, e disse ao Dr. zimerman, o nosso chefe de grupo:«Doutor, estes tipos tentaram fazer batota!»
Mathias estava verdadeiramente magoado e ainda em choque. Não conseguia compreender porque é que aqueles judeus não se tinham deixado matar pacatamente, achava aquilo anormal.
Esse dia foi particularmente difícil. Chegou logo outro comboio e quis o acaso que houvesse muitos dentes postiços e coroas para extrair."

    Chil Rajchman, Sou o último judeu - Treblinka (1942-1943), Teorema, (tr. T.C.), 2009, pp. 93-94.   

domingo, 16 de novembro de 2014

"O meu silêncio nunca significará que isto corre mal."



"Há dois anos, descobri por acaso numa livraria junto aos cais do Sena a última carta de
um homem que partiu no comboio de 22 de Junho (...).
A carta estava à venda, como qualquer autógrafo, o que significava que o destinatário dela e os seus parentes tinham desaparecido igualmente. Um fino quadrado de papel recoberto por uma escrita minúscula de ambos os lados. Fora remetida do Campo de Drancy por um certo Robert Tartakovsky. (...) Copio a sua carta, nesta quarta-feira 29 de Janeiro de 1997, cinquenta e cinco anos mais tarde.

(...)
Foi anteontem que me designaram para a partida. Estava moralmente pronto desde há bastante tempo. As pessoas aqui do campo andam assustadas, muitas choram, têm medo. A única coisa que me aborrece é que várias das roupas que pedi já há algum tempo nunca chegaram às minhas mãos. Enviei uma senha de encomenda de vestuário: ainda receberei a tempo aquilo por que espero? Gostaria que a minha mãe não se afligisse, nem ela nem ninguém. Farei o possível por regressar são e salvo. (...)
Gostava que não se atormentassem muito. Quero que a Marthe vá de férias. O meu silêncio nunca significará que isto corre mal. (...) Somos perto de um milhar os que vamos partir. Há também arianos no campo. Obrigam-nos a usar a insígnia judaica. Ontem o capitão alemão Doncker veio ao campo e houve uma debandada geral. Recomendar a todos os amigos que, se puderem, vão apanhar ar noutro lado, pois aqui temos de abandonar toda a esperança. Não sei se nos encaminharão para Compiègne antes da grande abalada. Não envio roupa, lavá-la-ei aqui. A cobardia da maior parte arrepia-me. Pergunto a mim mesmo o que acontecerá quando estivermos lá longe. (...) Devolverei provavelmente os livros de Arte que muito vos agradeço. Deverei sem dúvida resistir ao Inverno, estou pronto, não se inquietem. (...) O pior é que rapam o cabelo muito rente a todos os deportados e isto ainda os identifica mais do que a insígnia. (...)
Não sei, mas receio uma partida precipitada. Hoje devem cortar-me o cabelo rente. Logo à noite, os que vão partir serão sem dúvida fechados num corpo do edifício especial e vigiados de perto, até mesmo acompanhados aos WC por um gerdarme. Uma atmosfera sinistra paira sobre o campo. (...) Sosseguem, ter-vos-ei sempre no pensamento. (...) O que me desola é ser obrigado a separar-me da caneta e não ter o direito de possuir papel (um pensamento ridículo atravessa-me o espírito: as facas estão proibidas e não disponho de um simples abre-latas). Não me armo em valentão, não tenho feitio para isso; eis a atmosfera: doentes e enfermos em grande número também foram designados para a partida. (...) Julgo que talvez seja inútil tirar agora livros de minha casa, façam o que acharem melhor. Contanto que tenhamos bom tempo para a viagem! (...) Obrigado de todo o coração aos que me permitiram «passar o Inverno». Vou deixar esta carta em suspenso. Preciso de preparar o saco. Até logo! (...) esta nota é para o caso de eu não poder continuar. Mãe adorada, e vós, minhas queridas, beijo-vos com emoção. Sejam corajosas. Até logo, são 7 horas."
            Patrick Modiano, Dora Bruder, (tr. Cascais Franco), Edições Asa, 2000, pp.104-109.               

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O eu


O AMOR

"AMOR - O que é o amor? Um grande coração que dói
 E nervosas mãos; e silêncio; e longo desespero.
 Vida - O que é a vida? Um pântano deserto
 Onde chega o amor e de onde parte o amor."

                 R. L. Stevenson, Poemas, (Tr. José Agostinho Baptista) Assírio e Alvim, 2006, p.11.          

Madeleine Peyroux - Hey sweet man


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Só vento

"- Que faz por aqui?
- Nada, nada, nada, nada, nada, nada - respondeu-me ele, com um sorriso de bem-aventurança.
- Que é que lhe dá assim tanta alegria?
- O quê? Nada! É precisamente isso: "Nada"! Pois, é um calembur, eh... É esse "nada" que me diverte, está o meu excelentíssimo senhor, o meu distinto companheiro de aventuras a ver? porque é "nada" o que se leva toda a vida a fazer. Um pobre diabo levanta-se, senta-se, fala, escreve... e nada. Um pobre diabo compra, vende, casa-se, ou não se casa, e nada. E aqui está um pobre diabo sentado em cima dum tronco de árvore, e nada. Só vento."

Gombrowicz, Cosmos, (TR. Luísa Neto Jorge), Vega, 1995, p.107.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Encontro com Gonçalo M. Tavares, José Tolentino Mendonça e Pedro Mexia


Os Poetas


"OS POETAS, numa enorme fila que ultrapassa já a esquina do quarteirão seguinte, aproveitam o momento de espera para preencherem cuidadosamente o formulário."

Gonçalo M. Tavares, O Senhor Brecht.