quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

domingo, 8 de fevereiro de 2015

A singularidade extraordinária de Buchenwald

"Porém, quando se fala da Europa, para mim é absolutamente necessário regressar aos
campos. Embora tenha decidido, por uma questão de higiene pessoal, nunca mais aludir deliberadamente a esse passado, sou obrigado a fazê-lo indirectamente aqui. Buchenwald é um campo onde o símbolo, a incarnação do projecto europeu nos seus primórdios, é evidente e se inscreve na própria realidade geográfica dfo campo. A chaminé so crematório domina o campo tal como se apresenta heje, e foi ela que se tornou lugar de memória. Mas, no fim da colina que desce para a planície da Turíngia, há uma floresta muito recente, que os velhos deportados sabem muito bem que não existia na época. Foi plantada pelas autoridades da República Democrática Alemã. Porquê? Para esconder as valas comuns do campo estalinista.
Porque a singularidade extraordinária de Buchenwald reside no facto de, dois meses depois da partida dos últimos deportados, resistentes jugoslavos, portanto em Setembro de 1945, o campo ter reaberto para se transformar num campo da polícia soviética, na zona da ocupação russa na Alemanha. Transformou-se no Speziallager Nr. 2, o «campo especial nº2». O campo só esteve vazio de prisioneiros durante um breve intervalo de poucas semanas. É evidente que esse símbolo possui uma força extraordinária. É por esse motivo que a Alemanha tem um papel essencial a desempenhar, além da «expiação» dos crimes nazis: porque é o único país da Europa onde se sucederam directamente os dois totalitarismos, pelo menos numa parte dessa Alemanha reunificada. É por esse motivo que a motivação europeia é particularmente sensível na Alemanha em geral, e em Buchenwald em particular."

Jorge Semprún, A Linguagem é a Minha Pátria - Entrevistas com Franck Appréderis, Bizâncio, (tr. )
    2013,  p. 113-114        

Vermeer, A Vista de Delf (1660-61) e Rubens, As três Graças (1639)


Por sugestão de Jorge Semprún, A Linguagem é a Minha Pátria - Entrevistas com Franck Appréderis, Bizâncio, (tr. ) 2013, p. 68, onde se pode ler:
"Com efeito, creio que poderia contar a minha vida, ou escrever as minhas memórias (cada período diferente, cada episódio, cada camada de mil-folhas), em torno de um certo número de museus. Poderia, por exemplo, contar o fim da infância e a minha adolescência em torno do museu de Haia, o Mauritshuis, porque o visitava muito nesse período, e dele conservo a recordação de A Vista de Delf de Vermeer. Poderia também contar toda a minha vida política clandestina em torno do museu de Praga, a Galeria Nacional, bem como de certos museus da URSS, como o Ermitage de São Petersburgo, Petrogrado ou Leninegrado, ou a Galeria Tretiakov de Moscovo.
Mas há sobretudo esse museu que me acompanha de uma ponta à outra da minha existência: o Prado. Em primeiro lugar, porque passei a minha infância a duzentos metros daqui, numa rua vizinha, e, todos os domingos, o meu pai levava alguns dos seus filhos - não todos, mas três ou quatro dos mais velhos - ao Prado. Tratava-se, porém, de uma visita selectiva: não tínhamos o direito, por exemplo, de ir ver os nus femininos. Portanto, foi muito mais tarde que vi a pintura de Rubens. Vínhamos para a pintura histórica, a pintura religiosa, a pintura de Goya - mas não para os nus a transbordarem de carne de Rubens, que eram censurados!"