sexta-feira, 29 de maio de 2015

Claude Debussy Préludes (complete 24) - Krystian Zimerman



1. Danseuses de Delphes 00:00
2. Voiles 03:38
3. Le vent dans la plaine 08:06
4. Les sons et les parfums tournent dans l'air du soir 10:13
5. Les collines d'Anacapri 14:08
6. Des pas sur la neige 17:40
7. Ce qu'a vu le vent d'ouest 22:05
8. La fille aux cheveux de lin 25:19
9. La sérénade interrompue 28:28
10. La cathédrale engloutie 30:58
11. La danse de Puck 38:25
12. Minstrels 40:59
13. Brouillards 43:27
14. Feuilles mortes 46:58
15. La puerta del Vino 50:58
16. Les fées sont d'exquises danseuses 54:06
17. Bruyères 57:20
18. Général Lavine - eccentric 01:00:27
19. La terrasse des audiences du clair de lune 1:03:05
20. Ondine 01:07:37
21. Hommage à S. Pickwick 1:11:01
22. Canope 01:13:26
23. Les tierces alternées 01:16:41
24. Feux d'artifice 01:19:28

domingo, 24 de maio de 2015

Rembrandt ou Willem Drost - The Polish Rider (1655)


Por sugestão de Maria Filomena Molder, aqui.

Under the sun

"I further observed all the opression that goes on under the sun: the tears of the opressed, with none to comfort them; and the power of their oppressors - with none to comfort them. Them I accounted those who died long since more fortunate than those who are still living; and happier than either are those who have not yet come into being and have never witnessed the miseries that go on under the sun."

Ecclesiastes (JSP) 4: 1-3

sábado, 9 de maio de 2015

domingo, 3 de maio de 2015

como um rebento de relva que começa a nascer num terreno bravio rodeado de ervas daninhas

"Ontem à tarde lemos juntos os apontamentos que ele me  tinha dado. E quando chegámos a estas palavras: «Porém deveria bastar que houvesse uma pessoa digna de se chamar "Mensch" para se acreditar nas pessoas e na Humanidade», então abracei-o num impulso espontâneo. Este é o problema dos tempos que correm. O grande ódio contra os alemães, que me envenena a alma. «Eles que se afoguem, essa ralé, deveriam ser todos fumigados.» Estas observações fazem parte da conversa do dia-a-dia e às vezes provocam-nos a sensação de que é impossível viver nesta época. Até que de repente, há umas semanas, me surgiu a ideia libertadora, hesitante e frágil como um rebento de relva que começa a nascer num terreno bravio rodeado de ervas daninhas: mesmo que só houvesse um alemão digno de ser protegido contra essa chusma bárbara, por causa desse alemão decente não se devia derramar o ódio sobre um povo inteiro.

Isso não significa  que uma pessoa deva ter uma atitude indecisa em relação a determinadas correntes, uma pessoa toma posição, indigna-se regularmente com determinadas coisas, tenta informar-se, mas o ódio indiferenciado é a pior coisa que existe. É uma doença da própria alma. O ódio não faz parte do meu feitio. Se chegasse a esse ponto na época actual, então a minha alma ficaria ferida e teria de tentar encontrar um remédio para isso o mais rapidamente possível. (...)
Às vezes encho-me repentinamente de ódio, depois de ler o jornal ou de ouvir uma qualquer notícia do exterior, nesses momentos sou por vezes capaz de me exceder em palavrões contra os alemães. E tenho consciência de que o faço de propósito para magoar Käthe, para dar vazão ao ódio, apesar de ser contra uma querida amiga que eu sei que ama o seu país natal, o que é perfeitamente natural e compreensível, mas nesses momentos não consigo suportar que ela não os odeie tanto como eu - procuro, digamos, sintonia nesse ódio aos meus semelhantes. E isso sabendo eu que ela detesta a nova mentalidade tanto quanto eu, e fica igualmente acabrunhada com os excessos do seu povo. Porém, no íntimo, continua ligada àquele povo, e eu sinto-o, mas nesses momentos não consigo aguentar, esse povo inteiro deve ser exterminado pela raiz, e de vez em quando digo, malévola: «Escumalha, é o que são», enquanto fico envergonhada ao mesmo tempo. E mais tarde fico muito triste e não tenho sossego, porque sinto que tudo isto não está certo.
E então é verdadeiramente tocante o modo como de vez em quando dizemos muito amigavelmente a Käthe, para a animar:«Claro que sim, ainda existem alemães decentes, ao fim e ao cabo os soldados também nem sempre podem fazer alguma coisa, há alguns que são simpáticos.» Mas isso é só em teoria, dizemos isto só para mostrar um pouco de humanidade em meia dúzia de palavras inócuas. Porque se fossem verdadeiras, se sentíssemos realmente aquilo que afirmamos, não precisávamos de as enfatizar como fazemos, nesse caso seria um sentimento partilhado tanto pela saloia alemã como pelas estudantes judias, e então poderíamos falar sobre o bom estado do tempo e sobre a sopa de legumes, em vez de nos atormentarmos com conversas sobre política que nos servem apenas para dar vazão ao ódio. Porque o pensamento político, o tentar ver algo das linhas gerais e descortinar um pouco do que está por detrás delas, é coisa que praticamente desapareceu das nossas discussões; nada é aprofundado e, por esse motivo, hoje em dia não é interessante conversar sobre esses assuntos com outras pessoas. É por isso que S. se apresenta como um oásis no meio do deserto e que o abracei tão subitamente.
Ainda há muito para dizer a este respeito, mas agora tenho de pensar outra vez no trabalho, primeiro vou tomar uma lufada de ar fresco e depois atiro-me ao eslavo litúrgico. Até já."   

                         Etty Hillesum, Diário 1941-1943, Assírio e Alvim,  2009, pp. 68-71.